segunda-feira, 8 de junho de 2009

LEMBRANÇAS

Atirada na cama, olhando um raio de sol que entrava pela janela aberta, Coraline Carter acariciava seu gato de estimação, um siamês gordo chamado Stitch. O bichinho tinha apenas cinco meses e ela o tinha ganhado de presente de seu melhor amigo, Daniel. Lembrava-se bem da manhã do dia 12 de abril, quando abriu os olhos e encontrou uma cestinha de vime ao lado da cama, junto com um cartão que dizia:

Querida Cora, você sempre comentava que sentia falta da sua antiga gatinha, desde que ela fugiu, então tomei a liberdade de lhe dar um novo mascote. Espero que goste dele. Feliz aniversário!
Dan


Sorrindo, Cora identificara um pequeno embrulho no cestinho, um filhotinho branquelo, de olhos azuis. Assim que mexeu nele, as pálpebras se abriram revelando olhinhos azuis e meigos. Foi amor à primeira vista.
Nicholas, o namorado dela na época, é que não havia gostado muito do animal. Afinal, Cora havia gostado mais do presente do melhor amigo do que do dele, que era seu namorado. Enquanto ela havia brincado com o gato por horas, apenas dera uma olhada no colar de prata e brilhantes que ele dera a ela.
Cora riu e lembrou que naquele dia ela e Nicholas brigaram pela primeira vez. A última briga tinha sido há duas semanas e essa fora a briga definitiva, que marcara o fim do namoro dos dois.
O búlgaro loiro havia dito que não ia continuar com ela por causa da distancia, mas na semana seguinte, Cora descobriu que a antiga namorada dele resolveu voltar pra ele. Isso não a deixou mais triste, mas com certeza maculou o carinho que ainda sentia pelo búlgaro loiro. Ele fora o primeiro namorado, o primeiro beijo. Isso marca a vida de uma menina e não é nada agradável descobrir que o sonho acabou por causa de uma baranga húngara.
Enfim, ela teve que aceitar. Até mesmo porque não havia grandes chances para os dois. Ele morava na Hungria, quando não estava em Durmstrang. Ela morava em Londres e estudava em Hogwarts. Não era difícil prever que quando o Torneio Tribruxo acabasse os dois seguiriam caminhos opostos.
-Coraline, você já está acordada? – Uma voz de mulher interrompeu os devaneios da adolescente.
-Sim, mãe. – Ela respondeu.
Um “toc toc” suave no chão anunciou a chegada de uma mulher loira, de estatura mediana e aparência austera. Ava Carter, sua tia e mãe de criação. Ela tinha cabelos loiros, num corte channel, e olhos azuis e redondos, num tom escuro de verde.
-Já são quase onze horas! Levante já! E arrume esse seu quarto, isso está uma bagunça! – A mulher começou a metralhar.
-Primeiro eu vou tomar café...
-Como quiser. Mas quando eu voltar do meu expediente quero isso limpo, ouviu?
-Você podia usar magia e resolver isso em alguns segundos...
-Não, não poderia. – A mulher tinha uma expressão de censura.
Coraline revirou os olhos azuis. Odiava as cobranças chatas da mãe.
Sentou-se na cama e espreguiçou os braços antes de calçar as pantufas de coelhinho e sair do quarto, rumo à cozinha, a fim de tomar o café da manhã.
Quando terminou, seguiu para o quarto e começou a organizar suas coisas enquanto praticava os exercícios vocais que sua professora lhe passara. Cora fazia um curso de canto nas férias, pra desenvolver melhor a voz. Não tinha mais muita necessidade, uma vez que seus dons já estavam bem trabalhados, mas sua professora, Anna Marie, sempre recomendava que ela frequentasse as aulas e praticasse muito.
Terminada a pequena faxina, Cora pegou sua guitarra e sentou-se na cama. O instrumento fora seu presente de natal, dado a contragosto por sua mãe. Ela preferia que Cora aprendesse harpa... Mas como não havia muito remédio, acabou comprando a guitarra.
Cora dedilhou as cordas do instrumento. Estava tentando compor uma música para a banda que ela, Dan e mais dois amigos haviam formado na escola. Conforme a melodia ia ganhando corpo, a letra começou a surgir na cabeça dela.
Foi até a escrivaninha, para começar a anotar as notas antes de esquecê-las. Vendo que sua tinta havia acabado.
-Mamãe não se importará se eu pegar a tinta dela, não é Stitch? - Perguntou ela, levantando da cadeira e seguindo pelo corredor até o quarto da mãe.
O quarto de Ava era muito bem organizado. A confortável cama de casal ocupava o meio do aposento, com sua colcha branca límpida.
A escrivaninha ficava ao lado da penteadeira, no canto esquerdo.Cora foi até lá, mas antes que pudesse procurar um pote de tinteiro nas muitas gavetas da mesma, uma estranha bacia de metal chamou sua atenção, em especial porque nunca havia visto nada igual. Um líquido prateado estava dentro dela e parecia se mexer.
Ela aproximou sua mão para tocá-lo e sentiu um puxão. Estava mergulhando na bacia?!
De repente, viu-se na sala de uma casa bem iluminada.
Uma mulher de cabelos negros estava sentada em um sofá, cabisbaixa. Tinha cabelos curtos e repicados. O rosto dela se ergueu e Cora vislumbrou os olhos profundamente azuis.
-Eu... Eu sei que nunca nos demos muito bem, Ava, mas preciso da sua ajuda. - Disse a mulher morena.
-Não posso incentivar as suas besteiras, Mandy. - A voz ríspida chamou a atenção de Cora para a outra mulher.
Ava Carter tinha os cabelos loiros de sempre, porém mais longos. E usava uma roupa menos alinhada.
-Ava, é só até eu conseguir um lugar pra ficar. Pelo amor de Merlin, não posso ficar na rua. - Disse a morena.
-Mandy, você não deve levar a sério essas brigas de casal. - Disse ela. - Logo farão as pazes. Você não tem nada a temer...
-Ava... Eu... - a morena desviou o olhar. Saiu da cadeira onde estava e falou algo ao pé do ouvido de Ava.
Cora não conseguiu ouvir o que era, mas presumiu que fosse algo sério, porque sua tia franziu o cenho.
Antes que Cora pudesse notar mais alguma coisa, a visão se dissipou e ela estava novamente no quarto de sua mãe.
Ainda tonta com o que abara de ver, Cora esqueceu-se por completo do tinteiro. Então se lembrou de que certa vez, ela havia lido sobre aquela bacia em um livro da biblioteca da escola, durante uma pesquisa para a aula de feitiços. Tratava-se de uma penseira e era uma espécie de recinto para guardar lembranças e pensamentos.
Chocada, ela sentou-se no sofá da sala. Vira sua mãe em uma das lembranças de sua tia. Mas não havia entendido nada a respeito daquela conversa. O que sua mãe queria dizer? Por que sua tia estava zangada?

Nenhum comentário:

Postar um comentário