Nottingham, 1980.
A luz da lua entrava pela janela aberta e o vento fresco de agosto fazia com que as cortinas, de tecido diáfano e branco, ondulassem suavemente. Na poltrona no canto do quartinho miúdo e cheio de bichinhos, uma mulher de cabelos negros e curtos olhava para o berço do outro lado, coberto de tule branco.
Adorava ficar até tarde contemplando a calmaria de sua filha. Coraline era o bebê mais calmo do mundo. Quase nunca chorava e era muito curiosa. Estava sempre brincando com alguma coisa que encontrava e tinha apenas quatro meses.
Naquele mesmo dia, ela colocara um prendedor de roupas dentro da boca e quase havia o engolido, não fosse Amanda ter percebido a tempo. Ela sorria, relembrando o episódio, quando viu que a filha se inquietara.
Levantou-se e foi até o berço. Fitou os dois olhos cor-de-estrela da filha.
-O que houve, querida? Você teve um pesadelo? - Ela murmurou, acariciando suavemente o rostinho da criança.
-Não. Acho que sua filha está bem. Ou devo dizer... NOSSA filha está bem? - A voz masculina era conhecida de Mandy, apesar de não ouvi-la havia quase um ano.
-Nathan?! Como entrou aqui?
-Eu sou um bruxo, lembra? Eu posso aparatar. E esse seu prédio trouxa não tem nenhuma proteção para isso.
-Como descobriu...?
-Sou um bruxo muito influente e tenho muitos contatos. A medibruxa que atendeu vocÊ era a Mary Bronw, não é? Ela adora falar sobre os bebês lindos que passam por aquela maternidade e ocasionalmente, ao tomar um copo de vinho comigo, ela contou que fizera o parto de uma linda menina sem pai que fora chamada de Coraline. Não precisei usar muito dos meus dons de legilimens para descobrir o resto. – Ele deu um sorriso convencido.
Amanda ficou olhando para ele, atônita.
-Vamos lá, minha querida. Nós tivemos uma linda filha e podemos criá-la juntos, com tudo o que ela tem direito. Já pensou nisso? Ela vai ter tudo do bom e do mais caro, posso garantir. Além disso, vai ter o nome Earschaw. Faz ideia do peso que um nome pode ter?
Amanda ficou olhando para ele. Sua cabeça parecia ter prendido as palavras dele num eco. Eram propostas tentadoras. Ela havia crescido numa família com relativas dificuldades financeiras, perdera a mãe cedo e tivera que batalhar tudo com muito esforço. Seria maravilhoso poder dar tudo e mais um pouco para sua amada Coraline, mas que preço seria cobrado dela mais tarde?
-Nathan eu... Eu não amo mais você. – Amanda suspirou. – Você simplesmente traiu a minha confiança. Não dá pra voltar atrás nisso. Mas não... Não faço nenhuma objeção quanto ao fato de vocÊ assumir a paternidade da Coraline. Só não quero que vocÊ se meta na criação dela.
-Resposta errada, Mandy. – Ele balançou a cabeça com um sorriso torto. – Pense um pouco mais, amorzinho.
-Você está é louco! – Ela disse, já irritada com ele. – Por que não vai achar uma comensal de família tradicional, rica e cheia de frufrus pra casar com você e me deixa em paz?
-É você que eu quero, Mandyzinha.
-Pare! VocÊ não vai conseguir nada desse jeito. Não vou mudar de ideia, vocÊ sabe disso!
-Ah é?
-Sim! – Ela retrucou zangada.
Amanda Carte mal teve tempo de ouvir as palavras que se seguiram, mas elas ecoaram no quarto, de forma sombria e fatal. “Avada Kedrava”.
No berço, Coraline começou a chorar e a espernear, provavelmente acorda pelo barulho.
-Sch... Calma, minha linda, papai vai cuidar de você agora. – O homem caminhou até o berço e pegou o bebê no colo. A criança era mesmo linda. –Viu só o que tive que fazer com a sua mãe? Ela era uma menina má... Não queria deixar você vir com o papai. Feio, não é? Agora nós vamos para casa.
sexta-feira, 31 de julho de 2009
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adorei que participar da com
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