sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nove Meses

1979-1980
Amanda passou a mão pela barriga protuberante e redonda. Podia sentir seu bebê se mexendo e se divertia com isso. Um cliente entrou na loja e ela fez questão de disfarçar o movimento. Ninguém além dela mesma e de Ava poderiam saber sobre aquele bebê por quanto tempo fosse possível esconder a sua existência.
Mandy foi atender o cliente, sorrindo. Sentia o ventre pesar cada vez mais e isso dificultava seus movimentos.
"Logo vou ter que ficar em casa"
Ela estava tomando todo o cuidado do mundo para não esbarrar em Nathan e usava batas largas, ao estilo hippie, para que ninguém desconfiasse de nada. Não queria que Nathan soubesse daquele filho. Ele não podia saber.
Quando foi embora naquela tarde, para o apartamento de Ava, que era onde estava morando agora, ela pensava a respeito do bebê. Só pensava mais nele desde o momento em que soubera que estava ali. E isso a ajudava a não enlouquecer.
"Será um menino ou uma menina? Se for menino vai se chamar Lon, mas eu realmente gostaria que fosse uma menina... Uma menina para chamar de Bianca."
Dois dias depois, ela teve que contatar o Sr. Cattermore e dizer que estava se mudando para York. Ela agradeceu todas as oportunidades maravilhosas e o curso que ele lhe ministrara e disse que havia conseguido um emprego na outra cidade, onde conseguiria se desenvolver mais. O Sr. ficou feliz por ela.
Desde aquele dia, ninguém mais viu Amanda Carter na cidade de Londres.
Mas ela não estava em York. Estava no apartamento de Ava.
Não se sentia bem trancada lá dia e noite, mas não podia sair nas ruas. A barriga já pesava tanto que seus movimentos eram desengonçados e suspeitos demais. Passou a se ocupar das tarefas domésticas, manter a casa arrumada.
Já havia comprado um berço de madeira branca e alguns bichinhos para seu bebê e estava aprendendo a tricotar.
-Me sinto uma mulher do século XIV. - Comentou certa noite, para Ava.
-Você quem quis ter essa criança. Não pode sair com essa barriga ou vão saber.
-Eu tenho consciência disso. Mas não parece meu estilo de vida ficar em casa costurando e limpando.
-Devia ter pensado nisso antes de se envolver com um comensal.
-Eu não sabia... Ah, deixa pra lá. Não vamos falar nisso agora. Só estou um pouco chateada por ficar presa aqui. Mas logo o bebê vai nascer e vou ter muito trabalho. O apartamento ao lado vai vagar. Posso alugá-lo. Assim não fico incomodando você e Bill.
-Você não nos incomoda.
-Mas vocês são um casal... Não posso ficar aqui. Vocês têm a vida de vocês.
Ava não, falou nada. Amanda ficou se perguntando se, de fato Bill e ela ainda eram um casal. Eles se viam tão pouco ultimamente... Ambos estavam quase todo o tempo no Ministério. Quando um estava em casa o outro estava fora e vice versa.
Algumas semanas depois, Amanda Carter estava morando no apartamento em frente.
Ele era menor que o de Ava, mas era confortável e haveria um quarto para o bebê.
Os planos de Amanda para a criança já começavam desde cedo. Nomes, bichinhos, roupas e até a casa em Hogwarts que ela iria frequentar.
Por fim, numa noite quente e abafada de primavera, no dia 12 de abril de 1980, a bolsa se rompeu.
Chegar ao hospital não foi muito difícil, uma vez que ela deixara tudo pronto.
Algumas horas depois, empapada de suor e de sangue, Amanda Carter arfava sobre a maca.
Um choro intenso, forte e doce enchia o quarto onde ela estava e uma enfermeira vestida de branco sorria para a mulher enquanto a medibruxa responsável pelo parto tinha uma massa de pele cor-de-rosa nos braços.
-Parabéns, Srta. Carter. É uma menina. - Disse a curandeira, estendendo o bebezinho, limpo e enrolado numa fina coberta verde clara.
-Ela é linda. - Amanda sorriu e sentiu seus olhos verdes se encherem de lágrimas.
-É sim. - A enfermeira concordou. - Como vai chamá-la?
-Bianca... Não. Coraline. Coraline Bianca Carter. Soa bonito. Cora. - Amanda conjecturou.
-Ela não vai ter o sobrenome do pai? - A enfermeira questionou timidamente.
-Ela não tem pai. - Amanda respondeu indiferente.
-Ah... Entendo.
Na manhã seguinte Amanda já pôde voltar para casa com sua pequena Coraline. Era um bebê rechonchudo e alegre. Adorava abrir a boca em sorrisos sem dentes, mostrando apenas as gengivas e babando seu queixo roliço. Tinha a pele clara e olhos redondinhos. Eles eram azuis como duas estrelas, nem da cor dos de Nathan, nem da cor dos de Mandy.

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