sexta-feira, 10 de julho de 2009

Revelações- Parte II

Os cachos grandes e sedosos de Mandy enchiam o chão de madeira do quartinho. As lágrimas ainda corriam, mas agora não havia soluços nem gemidos para fazer-lhes coro.
Uma batida na porta.
-Mandy, você está aí? Eu fiquei preocupado... Você não foi para casa... Aconteceu alguma coisa?
"Pense, Mandy, pense..."
Ela respirou fundo.
Limpou a garganta.
-Eu estou aqui sim, Nat. - Ela respondeu.
-Está tudo bem?
-Está. Eu já vou sair. Estava testando um novo perfume para o Sr. Cattermore. - Ela respondeu.
Levantou-se e seguiu até a porta.
-O que houve com seu cabelo?
-Eu resolvi cortar. Você não gostou?
-Eu... Gostei. Mas seus cachos eram tão bonitos...
-Eles me deixavam com cara de boneca. Eu sou uma mulher. Uma mulher de verdade. - Ela disse de forma seca.
-Eu sei disso muito bem. - Ele sorriu e a envolveu com os braços.
Como ela nunca havia notado o cinismo encerrado naqueles olhos azuis? Ele era tão evidente agora que ela sabia de tudo... Sentiu vontade de empurrá-lo para longe.
-Vamos pra casa? - Ele sugeriu.
-Vamos.
-Você esteve chorando?
-Ah, sim. Lágrimas são um ingrediente importante. Então cortei umas cebolas e veja o estado em que fiquei.
Ele riu.
Logo os dois estavam aparatando na casa dos Earschaw.
Amanda se esforçou para parecer o mais natural possível durante o jantar.
Quando Nathan perguntava, preocupado, se ela estava bem, ela respondia que estava apenas com um pouco de dor de cabeça.
Na cama, naquela noite, Amanda Carter se sentia suja. No escuro, enquanto ouvia a respiração de Nathan perto de si, ela tentava pensar em algum jeito de se livrar daquela situação.
"Preciso pensar no meu bebê. É por ele que estou viva a partir de agora."
Sua mente começou a formular suas possíveis soluções.
Podia fugir do país. Mas não tinha como se sustentar.
A loja do Beco não era uma opção. Nathan a conhecia muito bem.
"Ava! Quando eu encontrar uma chance de escapar, vou pedir ajuda à ela!" Ela engoliu um seco, lembrando-se da última vez em que havia falado com a irmã...
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-Vou morar com o Nat. - A frase saiu dos lábios de Amanda de um jeito quase displicente.
-O que? - Ava olhou-a com surpresa.
-Não é maravilhoso? A mãe dele acabou morrendo... Ele diz que se sente muito solitário naquela casa enorme e me pediu pra morar com ele.
-Sem casar?
-Não seja puritana. Você e Bill não são casados.
"Mas eu sei que o Bill presta"
-Não acha cedo pra isso...
-Já estamos juntos há quase um ano.
-Mas... Aff! Não consigo confiar naquele cara. Ele está te iludindo, tenho certeza!
-O que?
-Isso mesmo. Esse cara apareceu do nada e você já foi caindo na dele. Você mal o conhece.
-Conheço o bastante pra afirmar que ele é maravilhoso e que eu o amo.
-Ele não presta!
-Escuta, você tem alguma coisa contra eu ser feliz? - Mandy estava gritando e nem se dera conta disso. - Por que você tem sempre que se meter na minha vida e achar que sabe o que eu tenho de fazer?
-Você é muito ingênua, Mandy! - Ava tentou argumentar, mas sua voz também estava um pouco mais alta que o normal.
-Pelo menos eu sou feliz! E você que vive sua vida cinza, sendo perfeita o tempo todo! Não sei como Bill te atura, porque se eu fosse um homem nunca iria amar uma mulher tão arrogante e sem vaidade como você! - As palavras foram cuspidas.
Ava apertou as mãos.
-Não procure mais meus conselhos se sou tão ruim. - Retrucou secamente.
-Ótimo. Seja feliz e adeus, Ava! - Ela saiu da sala do apartamento como um raio.
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E agora ela via como tinha sido boba. Ava tinha razão o tempo todo. Nathan não era nada do que ela imaginava. "Ele é um comensal."

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